quarta-feira, 27 de julho de 2011

Notas Sobre Depressão


Vivendo uma crise depressiva, ela ouviu recentemente de uma conhecida algo que eu imaginava não se dissesse mais: “você, com tudo o que tem, com todas essas facilidades e habilidades que tem, você, deprimida? Tire isso da cabeça! Vai fazer um serviço social, para você ver o que é de fato condição ruim de vida, para você ver quem é que tem que ficar deprimido mesmo!”
Ela me conta a história e diz que quase caiu na armadilha, começou mesmo a se sentir culpada por viver o que estava vivendo, mas logo se recuperou e compreendeu que a outra, a conhecida, não a tinha compreendido. Reequilibrou-se com isso e tratou de continuar a cuidar de si para que a depressão possa ir embora no momento certo.
Espantou-me essa história, pois imaginava que, nos dias de hoje, as pessoas já tivessem informação suficiente para saber que depressão não é escolha ou frescura ou defeito, mas reação a situações vitais com a finalidade de resolvê-las. Ninguém sofre uma depressão porque quer, mas porque precisa!
Olhar para o outro, comparar-se ao outro, especialmente o outro menos afortunado em alguns quesitos, jamais foi eficaz contra a depressão, antes pelo contrário. Se a pessoa está deprimida e debilitada e ouve uma falsa assertiva como essa, é grande a possibilidade de que ela fique ainda mais deprimida, sofrimento aumentado pela culpa impingida pelo comentário maldoso que parece bem intencionado.
O que uma pessoa deprimida precisa, isso sim, é olhar-se mais e melhor, buscar conhecer-se melhor, tentar compreender qual o sentido que aquele sofrimento tem para ela naquele momento, para que enfrentamentos e mudanças ele aponta, que desapegos ele pede. Tarefas fáceis de se falar e complicadíssimas de se fazer, como sabe a pessoa que um dia viveu uma depressão ou uma crise depressiva.
Comparar-se a outra pessoa é tarefa delicada e perigosa que nunca dá certo quando feita de maneira competitiva. É preciso levar em conta que as pessoas são diferentes, de modo que aquilo que para uns é incentivo, para outros é empecilho, aquilo que para uns é combustível, para outros é veneno. Não dá para aplicar na própria vida a receita que é boa para a vida do outro, apenas um ou outro ingrediente dessa receita. Falando de um outro jeito: se admiro alguém, é bom que eu perceba qual qualidade dessa pessoa estou admirando e como posso desenvolvê-la em mim, se for o caso e preservando o que tenho de diferente.
Se a solução das crises de nossa vida passam sempre pelo outro, não é jamais no sentido da comparação competitiva, mas do companheirismo e da compreensão.

(`Ênio Brito Pinto)

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